Brincadeiras e brinquedos que fizeram sucesso há algumas décadas marcam presença na infância e na adolescência de alguns moradores do bairro Coronel Aparício Borges, na zona leste de Porto Alegre. Há cerca de 15 anos, o manobrista de garagem Jorge Luiz Rosa Domingos, 53 anos, morador do bairro Partenon, se empenha em produzir pipas, também conhecidas como papagaios ou pandorgas, para as crianças que moram próximas ao Morro da Polícia.

A atividade, que começou com a proposta de proporcionar momentos de lazer para os quatro filhos, logo se transformou em uma ação social para crianças da comunidade: 

— Meu principal objetivo é tirar essas crianças do contexto de violência e de criminalidade. Algumas delas não conseguem nem brincar na rua hoje em dia.

Aos poucos, Jorge passou a expandir o leque de brincadeiras. Hoje ele ensina a gurizada a brincar com bolitas, piões, futebol de botão e, claro, a empinar pipas. Ele residiu no Morro da Polícia durante 30 anos. Mesmo tendo se mudado, conta que o vínculo criado com os moradores do local faz com que retorne para seguir realizando os encontros.

Lazer

De segunda a sábado, o manobrista trabalha. Por isso, os domingos de folga são utilizados para reunir o grupo, que conta com novos integrantes semanalmente, para as brincadeiras.  A ação é financiada por ele. O material utilizado para a confecção das pipas é comprado a partir do seu salário. Barbante e papel encerado são os itens principais para a produção dos brinquedos. Além disso, alguns amigos e conhecidos costumam contribuir sempre que possível, realizando doações de brinquedos como bolas de gude e piões. 

Como depende de recursos próprios, o manobrista explica que nem sempre consegue doar a quantidade necessária para contemplar todas as crianças que participam das atividades.

— Acredito muito no poder da recreação e dos momentos de lazer. Divido o que eu ganho para tentar manter o projeto com essas brincadeiras antigas — conta o idealizador.

Apoio para expandir

Um dos jovens impactados pela ação de Jorge foi o cantor amador Christyan Rodrigues França, 25 anos, morador do bairro Aparício Borges. Ele lembra que aos nove anos começou a participar dos encontros. 

— Durante seis anos brinquei, joguei bola, dancei. Foi bom pra mim e para mostrar para a sociedade que quem mora no morro também pode ser artista, jogador ou o que quiser — conclui o jovem.

Além disso, ele conta que a ação social é essencial para manter a juventude longe do tédio e da vulnerabilidade. Lamenta, no entanto, que nem todas as crianças tenham acesso às brincadeiras antigas com facilidade:

— O projeto do Titio (como costumam chamar Jorge) é muito importante. Espero que continue influenciando muita gente ainda.

Uma das metas do manobrista é expandir essas atividades para outras comunidades de Porto Alegre e da Região Metropolitana. No entanto, como precisa de recursos financeiros para comprar os materiais e para se locomover, ele explica não ter essa possibilidade ainda:

— O que eu preciso, hoje em dia, é de um veículo que me possibilite levar e trazer as pandorgas, as bolitas, os botões. Não quero um carro para passear, para me divertir. Quero algo para impulsionar meu trabalho social.  

Saiba como ajudar

  • Jorge aceita doações de papel encerado, barbantes, bolitas, piões, botões (para futebol de mesa) e doações em dinheiro. Para ajudar, entre em contato pelo número: (51) 98451-5438.

Fonte: GZH