Herculano Fernandes dos Santos Filho tem 55 anos e já administrou quatro condomínios em Salvador, na capital baiana. Síndico desde 2004, ele levou uma década para sentir que realmente estava na carreira certa. Hoje, é capaz de elencar características essenciais de profissionais como ele, tais como conhecer a legislação e ser conciliador sem deixar de ser técnico. Em se tratando de seu Estado, acredita que uma das principais dificuldades é convencer o condômino da necessidade de promover reajustes para que os benefícios sejam mantidos. Confira abaixo a entrevista que ele concedeu à Revista Área Comum.

Como descobriu a vocação para ser síndico?
Só descobri a minha vocação mesmo após ser síndico do segundo condomínio, em 2014, quando fui orientado por uma empresa de administração de condomínios para me profissionalizar.

Fez algum curso na área condominial?
Sim, de administração de condomínios e de síndico profissional. Depois fiz outros cursos referentes a serviços da área.

Conte uma situação desafiadora em condomínio pela qual já passou e como a solucionou.
Fui agredido fisicamente por um morador que era conselheiro e que fazia coisas erradas, como querer ganhar dinheiro do condomínio e descumprir várias regras da convenção. Assim, entrei com um processo judicial contra o mesmo.

Na sua visão, qual o principal desafio na carreira de um síndico?
Reduzir custos, prestar contas, mediar conflitos e cuidar da segurança do condomínio.

Que características um bom síndico deve ter?
Acredito que ele precisa ter e desenvolver algumas habilidades, como ser analítico, ter conhecimento técnico, se atualizar sempre, ter conhecimento das leis, perfil conciliador, além de ter uma boa programação do que deve ser feito na sua gestão e trabalhar em prol disso. Deve liderar sempre com transparência, tomar decisões de cabeça fria, ter uma boa comunicação, ser sociável, ter uma boa liderança, ser resiliente, ser imparcial, comprometido, saber ouvir, ter bastante jogo de cintura, ser organizado, trabalhar em equipe, ter equilíbrio e ser flexível. Acho que a maior de todas as competências é saber absorver as “pancadas” e não as revidar, entendendo a situação com sabedoria.

Acredita que a profissão hoje é mais valorizada do que há alguns anos?
Acredito que estamos caminhando para isso, porém ainda não chegamos nesse momento. Estamos com um projeto de lei que tramita no Congresso para a regulamentação da profissão de síndico não-condômino. Tem sido um trabalho árduo. Devido à falta de conhecimento técnico, tem crescido a contratação de síndicos profissionais, porém o nosso maior desafio é o de convencer os condôminos a pagar a remuneração correta pelos serviços prestados. Existem várias pessoas se rotulando como síndicos profissionais, mas que não estão qualificadas e, dessa forma, até cobram o valor abaixo do mercado, dificultando a valorização do bom profissional.

Qual é, na sua opinião, uma característica marcante dos condomínios do seu Estado?
Aqui as pessoas querem morar em condomínios que têm uma boa infraestrutura, mas não aceitam o reajuste da taxa ordinária. Há que se levar em conta a folha de pagamento, aumento nas concessionárias de luz, água e gás. Esses valores necessitam ser repassados. Na minha opinião, a taxa deveria ser rateada com as despesas no final do mês e, depois, gerados os boletos, mas devido à complexidade do rateio se estabelece uma média e fixa-se um valor, que normalmente nunca é justo e sempre fica abaixo.

Há algum tipo de problema ou questão pela qual a maioria dos condomínios baianos passa?
Posso dizer que este problema é a inadimplência.

Fonte: revistaareacomum