A marquise é uma cobertura que vai além da parede da construção do prédio e tem como função proteger as pessoas na parte externa e também a própria construção em relação à ação das chuvas e do sol.
Entre os motivos que podem levar a problemas na estrutura estão falhas no projeto, falta de manutenção e infiltrações, que podem acelerar o desgaste.
Na Rua Lopes de Oliveira, no centro de Itapetininga (SP), a marquise de um prédio está com muitas infiltrações e rachaduras, e parte do reboco está se soltando. Na mesma rua, uma casa está abandonada, com as ferragens da marquise expostas e alguns tijolos caídos.
Na semana passada, Thiago Nery, de 17 anos, morreu depois de ser atingido por uma marquise. A imagem da câmera do edifício mostra o estudante e o amigo dele olhando para o alto quando, de repente, a estrutura vem abaixo.
O jovem, que era de Laranjal Paulista (SP), estava morando e estudando na capital, onde aconteceu o acidente. O prédio residencial tem aproximadamente 40 anos e, segundo a Defesa Civil, a marquise tinha infiltrações e sinais de manutenções antigas.
De acordo com especialistas, a estrutura de casas e prédios sempre vai dar sinais se alguma coisa não estiver certa. Durante a obra e depois dela pronta é preciso ficar de olho em rachaduras, trincas e infiltrações, problemas que podem estar relacionados a projetos mal feitos ou falta de manutenção.
“Logo que você entrega a obra, depois de quatro ou cinco meses, já começa a aparecer alguma coisa estrutural. É fácil a verificação, começa a aparecer trincas, a ter recalque. No decorrer do tempo, precisa ter uma manutenção da estrutura para que os agentes nocivos ao concreto não penetrem. Porque, na hora que penetrar, ele muda o pH e começa a enferrujar o ferro. Com isso, vai romper o concreto”, explica o engenheiro civil Antônio Galvão.
“Não temos nenhuma legislação, diferente de outros países, que obrigue a fazer a cada cinco ou 10 anos uma inspeção nas estrutura. Se isso acontecesse no Brasil, a maioria das obras ão teria esses danos. Todo mundo se preocupa com a manutenção, mas nas obras ninguém se preocupa com isso”, ressalta o engenheiro.
O prédio mais antigo de Itapetininga tem nove andares e foi construído há 50 anos. No local, mesmo sem a obrigatoriedade, as manutenções acontecem com frequência. Alsideney Scheidt é síndico do prédio e diz que moradores e funcionários estão sempre em alerta.
“A gente tem engenheiro que acompanha e vem esporadicamente no prédio, verifica tudo certinho. Tem um zelador que mora no último andar e todo dia desce a pé verificando, vai na garagem, sobe ver se tem algum problema no elevador. Verifica tudo isso aí”, comenta.
A última obra no prédio aconteceu há poucos meses. As tubulações de ferro usadas no início da construção do edifício foram substituídas por canos de PVC.
“Toda a parte hidráulica, os canos de esgoto e de água eram de ferro. Começou a aparecer ferrugem e resolvemos fazer a substituição por bem, antes a prevenção do que uma interdição”, diz.
A Prefeitura de Itapetininga disse, em nota, que não recebeu nenhuma reclamação sobre a casa e o prédio na Rua Lopes de Oliveira, mas uma equipe da Defesa Civil vai fazer uma vistoria para verificar os problemas.
Apesar disso, reforça que a responsabilidade pela manutenção de imóveis particulares é do dono do local. Diz ainda que, sobre edificações já construídas, a prefeitura só atua se for notificada de alguma possível irregularidade, fazendo a comunicação de órgãos responsáveis, como a Defesa Civil e o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea).
A administração municipal ainda afirma que, no caso de condomínio, depois de uma construção ser finalizada e entregue, ela possui uma garantia de obra prevista no código civil, e que a construtora é a responsável por fazer a manutenção, caso surja algum problema.
Depois desse prazo, cabe ao síndico ou responsável pelo condomínio contratar uma empresa ou responsável técnico para realizar as manutenções.
Sobre a queda da marquise do prédio que matou Thiago Nery e deixou o amigo dele, João Portugal, de 18, com fraturas no tornozelo, a Subprefeitura de Pinheiros diz que não há registros recentes de obras no prédio. O Conselho Regional de Engenharia e a Defesa Civil de São Paulo acompanham o caso.
Fonte: G1